domingo, 14 de março de 2010

Quebrando o termômetro

Para a escola, no processo de aprendizagem, a avaliação é indispensável. Por meio dela é que se mede o que o professor conseguiu transmitir de conhecimento e o que o aluno conseguiu aprender. A melhor forma de avaliar é criar indicadores universalmente conhecidos, como sugere a Unesco, entre países, estados, escolas.
Foi pensando nisso que o MEC criou a avaliação nacional Prova Brasil, em 2005. Naquele ano, o Estado de São Paulo ficou em 6º lugar na prova de português e na 7ª colocação em matemática, na 4ª série. Já na 8ª série, o resultado foi ainda pior, ficando em 8º lugar em português e em 10º na avaliação de matemática.
O governo de São Paulo adota uma metodologia própria de avaliação - Saresp, que até 2008 era dividido em quatro níveis: abaixo xo básico, básico, adequado e avançado. Agora, os níveis básicos e adequados foram agrupados em um só, o suficiente. A nova classificação altera a interpretação do desempenho, pois a maioria que estava abaixo do desejado tornou-se uma maioria com aproveitamento suficiente.
Ou seja, a mudança de critérios não permite comparação nem com outros estados, nem com padrões internacionais e nem com o passado. E, mesmo assim, o quadro é muito ruim. Os resultados do Saresp 2009, recém-divulgados, mostram que o desempenho dos alunos do 3º ano do Ensino Médio não chega ao esperado para a 8ª série, o que representa uma defasagem gravíssima.
Não é possível aceitar essa deterioração do ensino público no Estado mais rico do país. Os alunos que estão saindo com três anos de defasagem de aprendizado são vítimas de uma política educacional inadequada. Não adianta tentar transferir responsabilidades. O governo anterior insistiu na política de aprovação automática, prática comprovadamente prejudicial. E o atual governo já trocou por três vezes o comando da pasta, mas continua sem uma visão integrada da Educação. Não há uma política de valorização do professor, elo fundamental para que se obtenha bons resultados.
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Em São Paulo, precisamos promover uma ampla inclusão digital para dar salto tecnológico. Mas não é só. É preciso reavaliar a concepção pedagógica e, principalmente, investir na construção da carreira docente, com critérios de avaliação e promoção. O professor, que há anos enfrenta baixa remuneração e ausência de planos de carreira, precisa de planos de carreira, precisa ser valorizado.
Mudar as formas de avaliação e mascarar os dados não vai resolver a situação. Não adianta tentar baixar a febre quebrando o termômetro. Precisamos de mudanças. E urgentes.


Aloizio Mercadante - economista, senador e líder do PT no Senado. (Correio Popular - 10/03)

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