sexta-feira, 26 de março de 2010

Serra x Educação

Parte dos professores da rede pública do Estado de São Paulo está em greve há 20 dias, em defesa de uma educação pública de qualidade.
Por acreditar que lutar contra os abusos do governo Serra e o descaso pela educação imposta pela presença do PSDB há quase duas décadas, no comando do Estado, a paralisação dos professores é a forma mais digna de dizer ao governo e tentar mostrar aos meios de comunicação e à população em geral que os professores não aguentam mais serem tratados como um lixo por esse governo e pela política educacional estadual imposta por ele e pelos seus antecessores que por aí estiveram pelos últimos 20 anos.
Com o dinheiro público o governo compra a mídia para veicular mentiras e falsas propagandas, tentando enganar mais uma vez a população, tentando convencer o público em geral que a educação está melhorando pelas boas ações de seu governo.
O governo mente descaradamente. Mente quando diz que há dois professores na sala de aula, mente quando diz que há laboratório nas escolas funcionando em todos os períodos, inclusive aos finais de semana, mente quando diz que em todas as escolas há bibliotecas funcionando, mente quando diz que os professores ganham 'Kits' de materiais para desenvolver seu trabalho, mente ao dizer que os professores ganham bônus de até R$ 15.000,00 anualmente pela sua dedicação à educação, mente quando diz que os professores têm acesso a cursos de capacitação de qualidade fornecido pelo estado, mente quando diz publicamente que a folha de pagamentos da secretaria cresceu entre 2005 e 2009 33%, ou seja, sua propaganda é mentirosa. Esse governo é um malfeitor para a educação pública do Estado de São Paulo.
Eu gostaria que esse governo falasse publicamente que o vale alimentação pago aos professores é de apenas R$ 4,00 e que esse valor é o mesmo desde o ano de 2000 e nem todos os professores recebem essa fortuna. Gostaria também que ele publicasse qual é o valor da hora-aula de um professor da rede estadual. Gostaria que ele publicasse o valor do salário de um professor por uma jornada de 24 horas semanal e que fizesse uma comparação com o salário pago em 2005.
Isso ele não tem coragem de mostrar porque tudo que ele e seus assessores dizem é mentira.
Em uma de suas falácias à imprensa recentemente o governo Serra tenta, mais uma vez, desqualificar os professores dizendo que o movimento grevista dos professores não significa nada.
O Serra desdenha os professores e tenta desqualificar seu movimento porque está incomodado, porque não gosta de ser criticado.
Esse governo vem acabando com a a educação pública porque não lhe interessa que a população seja crítica, seja instruída, tornando assim, cidadãos fáceis de se manipular.
Prof. Everaldo Rocha

O drama do professor

Quem não o conhece? Figura respeitada no passado, holerite que nada perdia para o juiz da cidade, hoje não passa de um mendigo de gravata tal a situação de penúria a que vem sendo exposto pelos donos do poder. Achatado, cada vez mais, em seus vencimentos, era, entretanto, em tempos que já vão longe, personagem central na comunidade em que estava inserido, indivíduo diante do qual tirava-se o chapéu para reverenciá-lo como cidadão, como responsável pela formação de nossas crianças e, sobretudo, como veículo de informação de nossa história, da área geográfica espalhadas pelos mapas-múndi, de como interpretar textos arrancados do cérebro criativo e da alma sensível de nossos poetas e escritores.
Se antigamente dava doze aulas semanais, e tempo tinha para prepará-las, hoje o professor virou caixeiro-viajante, porque, como um dos formadores de opinião, se vê cada vez mais achincalhado por nossos insensíveis governantes. Em 24 horas, para ganhar o amargo pão de cada dia, locomove-se para várias unidades de ensino, o que o impede de especializar-se como profissional da educação, quando essa deveria estar no topo dos que governam países, estados e municípios. E esses desconhecem o quão imprescindíveis são nossos educadores, na formação de nossas crianças, no conduzir nossos jovens, muitas vezes sem ter quem os oriente pelos ínvios caminhos de uma juventude sem freios, sobretudo desfalcada de líderes que tragam, dentro de si, a sublime vontade de servir.
è tarde da noite. E o professor volta para casa extenuado, sem mais sonhos para sonhar. De repente, não mais que de repente, dá um giro pelos jornais. Quem sabe, entre as nuvens do imprevisível, flutue algo de bom, algo que se chame esperança, ou quem sabe até a volta daquele passado radiante em que o professor era respeitado como uma das molas mestras do ensino. E tinha status. E tinha sua biblioteca particular. E viajava para o estrangeiro porque condições não lhe faltavam para conhecer países outros. Cansado, mas ainda cheio de ilusões, percorre as páginas do jornal. Olhos assustados, mal pode crer no que lê: "País só cumpre trinta e três por cento de metas da Educação". E mais abaixo: "Relatório mostra que ainda há alta repetência, a taxa de universitários é baixa e o acesso à Educação Infantil está longe do proposto". (...)
Arita Damasceno Pettená - Membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas. (Correio Popular - 26/03/2010)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Síntese da felicidade

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma suspresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 14 de março de 2010

Quebrando o termômetro

Para a escola, no processo de aprendizagem, a avaliação é indispensável. Por meio dela é que se mede o que o professor conseguiu transmitir de conhecimento e o que o aluno conseguiu aprender. A melhor forma de avaliar é criar indicadores universalmente conhecidos, como sugere a Unesco, entre países, estados, escolas.
Foi pensando nisso que o MEC criou a avaliação nacional Prova Brasil, em 2005. Naquele ano, o Estado de São Paulo ficou em 6º lugar na prova de português e na 7ª colocação em matemática, na 4ª série. Já na 8ª série, o resultado foi ainda pior, ficando em 8º lugar em português e em 10º na avaliação de matemática.
O governo de São Paulo adota uma metodologia própria de avaliação - Saresp, que até 2008 era dividido em quatro níveis: abaixo xo básico, básico, adequado e avançado. Agora, os níveis básicos e adequados foram agrupados em um só, o suficiente. A nova classificação altera a interpretação do desempenho, pois a maioria que estava abaixo do desejado tornou-se uma maioria com aproveitamento suficiente.
Ou seja, a mudança de critérios não permite comparação nem com outros estados, nem com padrões internacionais e nem com o passado. E, mesmo assim, o quadro é muito ruim. Os resultados do Saresp 2009, recém-divulgados, mostram que o desempenho dos alunos do 3º ano do Ensino Médio não chega ao esperado para a 8ª série, o que representa uma defasagem gravíssima.
Não é possível aceitar essa deterioração do ensino público no Estado mais rico do país. Os alunos que estão saindo com três anos de defasagem de aprendizado são vítimas de uma política educacional inadequada. Não adianta tentar transferir responsabilidades. O governo anterior insistiu na política de aprovação automática, prática comprovadamente prejudicial. E o atual governo já trocou por três vezes o comando da pasta, mas continua sem uma visão integrada da Educação. Não há uma política de valorização do professor, elo fundamental para que se obtenha bons resultados.
....
Em São Paulo, precisamos promover uma ampla inclusão digital para dar salto tecnológico. Mas não é só. É preciso reavaliar a concepção pedagógica e, principalmente, investir na construção da carreira docente, com critérios de avaliação e promoção. O professor, que há anos enfrenta baixa remuneração e ausência de planos de carreira, precisa de planos de carreira, precisa ser valorizado.
Mudar as formas de avaliação e mascarar os dados não vai resolver a situação. Não adianta tentar baixar a febre quebrando o termômetro. Precisamos de mudanças. E urgentes.


Aloizio Mercadante - economista, senador e líder do PT no Senado. (Correio Popular - 10/03)

Educação pública estadual

Quero parabenizar o senador Aloizio Mercadante pelo seu artigo "Quebrando o Termômetro" (10/03). Finalmente alguém tem a lucidez e a coragem de colocar o dedo na ferida que é a educação pública no Estado de São Paulo. Sou professora e é revoltante sermos responsabilizados pela falência da educação. Se o arcabouço combalido da educação ainda está em pé é por honra e mérito dos professores que, apesar da ausência de uma política séria de educação, ainda enfrenta a guerrilha do governo na questão de carreira e salário dos professores.
Geny Ribeiro da Silva - professora da rede municipal de Campinas e rede estadual de São Paulo